Eu amo e odeio frases clichês com a mesma intensidade. Uma delas: ‘Os opostos se atraem’. Será mesmo? No campo da física, dizem que sim. Mas podemos dizer o mesmo quando se trata do contexto dos relacionamentos afetivos? Particularmente, tenho restrições sobre tomar essa premissa como uma verdade absoluta.
Um gosta do dia, o outro, da noite. Um é apreciador de samba, o outro um amante do rock. Um é extrovertido e o outro super tímido. Ela mega-afetiva e ele meio ‘friozão’. Ela caseira e ele adora a rua. Nenhum dos dois se entendem sobre gastar ou poupar.
Quais as chances de relacionamentos assim funcionarem no longo prazo?
Sabemos, é claro, que existem muitos casos de casais recém-formados entre pessoas extremamente diferentes e que, até mesmo, celebram essa aparente atração dos opostos. Não é impossível acontecer. Apenas acredito que essas diferenças, no início de tudo, podem ter sido a centelha, o estopim. A partir disso, afirmar que foram feitos um para o outro, que essa união tem – ou terá em seu futuro – sintonia, harmonia, convergência de objetivos e alinhamento nas decisões práticas de uma vida pós-paixão arrebatadora-acalorada-salve-salve parece uma certa ‘forçação de barra’, né?
De fato, existem alguns casais que ‘resistem bem’ às diferenças. Quem não conhece nenhum, que atire a primeira pedra. Provavelmente, vocês conheçam alguns que estão juntos há muitos e muitos anos. É possível. A má notícia, que sinto trazer, é que existem muitos parceiros de relacionamento que ‘vegetam’ afetivamente sob o mesmo teto. Esta associação está, infelizmente, no inconsciente coletivo. Há, comumente, uma tendência infantil de achar que relacionamentos longos ‘deram certo’. Ledo engano, minha gente. “Dar certo” não é sinônimo de alegria. O tempo passa e, sem que se perceba, essa alegria já pode ter ido embora há muito e, junto com ela, o respeito, a cumplicidade e o sexo. E, como o relacionamento não chega ao ponto de ser assumido íntima e publicamente como terminado, segue com o rótulo do ‘deu certo’.
Mas vocês sabem porque essa aparente ‘parceria’ continua? Continua porque é difícil sair da nossa zona de conforto. Continua porque ‘dá trabalho’ tomar atitudes e reagir. Porque acreditamos que preservar o ‘establishment’ é o melhor para os filhos. Por vezes, continua por pena do outro, por medo e/ou porque temos nossas velhas crenças limitantes: ‘Ahhh! Relacionamento é assim mesmo!’.
Eu poderia elencar mil e um motivos possíveis. Todos eles seriam apenas desculpas! Pretextos que nos impomos para limitar nossa aceitação de algo que traz desconforto.
Partindo-se do princípio de que as semelhanças são um fator indispensável para um relacionamento feliz, como viver em harmonia se os interesses forem tão opostos? Se, no relacionamento, não se falar ‘a mesma língua’?
Bom… Penso que o mínimo que um relacionamento bacana deve proporcionar aos envolvidos é o sentimento de liberdade, misturado com o de segurança. E que cada um possa expressar a sua verdadeira personalidade, sentir-se aceito, admirado e acolhido. Conseguir isso em um relacionamento entre pessoas que carregam o peso de serem opostas seria de um altruísmo mútuo e tão improvável quanto acertar na loteria, penso eu. Se essa aceitação, essa admiração não existe, o que restará será um ambiente infeliz. Sabe aquela sensação de calça jeans apertada, incômoda e desconfortável?
A pior coisa do mundo é alguém querendo ‘matar’ a sua essência. Ou seja, quando há a necessidade de um gasto de energia insalubre para fazer com que você deixe de ser quem realmente é para adequar-se ao que o outro idealiza.
Lembrem-se sempre: um relacionamento longo pode não ser um relacionamento feliz.
Texto publicado em www.superela.com/os-opostos-se-atraem.